Alter do Chão

Alter do Chão

Alter do Chão

 Em Dezembro de 2023 estivemos em Alter do Chão por 5 dias à convite da Vila de Alter Pousada Boutique Amazônia em parceria com a Embarque With Us para conhecermos esse pedacinho de paraíso na Amazônia Paraense e darmos início a uma série de coleções do nosso Brasil.

 Apesar de já ter lido e visto muitas fotos do local, nada me preparou para o que vi e vivi por lá. Foi, sem dúvidas, a viagem mais incrível que já fiz no Brasil. A imersão cultural que tivemos, o contato com as comunidades ribeirinhas, o senso de importância e urgência que criamos para a proteção de nossas florestas e rios. É um destino único, com natureza exuberante e beleza singular, daqueles que continua dentro de você, maturando e te transformando por muito tempo após a volta.

Resumo

Alter do Chão: 5 noites

A Chegada

Voamos de Congonhas para Brasília no voo das 21:00hrs e de Brasília para Santarém no voo das 00:30, pousamos no Pará às 03:05 da madrugada do dia 12 de dezembro. Achamos esse voo o mais rápido, apesar do horário não ser dos melhores. A Azul opera esse destino também e em um horário melhor, no entanto, tem duas escalas: uma em Confins e outra em Belém.

Chegando no aeroporto de Santarém, fomos recebidas pelo Sr. Humberto, um taxista muito gentil que foi indicação da Andréa, proprietária da Vila de Alter. O trajeto do aeroporto até a pousada tem em torno de 30 km.

Alter está localizada às margens do Rio Tapajós e é um distrito do município de Santarém - PA, e possui pouco mais de 6000 habitantes.

Deixo aqui o contato do Sr. Humberto: (93) 99141-0322.

O Hotel

Nos hospedamos na charmosíssima Vila de Alter Pousada Boutique Amazônia, com apenas seis bangalôs e serviço impecável, a pousada é um oásis de paz, tranquilidade e muito bom gosto em Alter do Chão.

A pousada não fica exatamente no centrinho de Alter, mas é muito próxima, e a equipe sempre solícita pode chamar um táxi quando necessário. Os taxistas chegam super rápido e a corrida custa em média 20 reais.

Eles recebem desde casais, grupos de amigos e famílias. É possível adaptar o formato dos quartos com camas de casal ou solteiro e até montar um bangalô "família" com uma cama de casal e uma de solteiro. 

A equipe da Vila é um capítulo à parte, são pessoas muito especiais. O cuidado, carinho e educação com os hóspedes nos deixou encantadas. O hotel não possui um serviço 24hrs, mas há sempre alguém por lá para ajudar no que for necessário. Eles nos servem um café da manhã maravilhoso e super completo com várias opções paraenses e, à tarde, quando chegamos do passeio, há sempre uma lancheirinha com um salgado, um doce e um suco ou chá nos esperando, tudo muito gostoso e feito na cozinha do hotel. A Vila não possui restaurante, então para almoçar ou jantar a sugestão é ir para o centrinho conhecer os restaurantes de Alter.

 A decoração é de extremo bom gosto, tudo muito charmoso, sempre valorizando o artesanato e cultura locais com peças de arte indígena e referências ribeirinhas. Cada bangalô e espaço da pousada tem o nome de uma espécie da flora amazônica, o nosso se chamava Piquiá.  A pousada foi construída de forma a se assemelhar à uma trilha no meio da floresta, ela é toda integrada à natureza, todos os espaços estão conectados por uma passarela de madeira em meio a vegetação, onde é possível ver cotia, macaquinhos, pássaros e até um bicho preguiça. Tudo na Vila é de uma simplicidade poética, com muito cuidado e carinho, feito para que a vivência do hóspede seja vivida sem pressa, aproveitando tudo de mais lindo que a região tem a oferecer.

To Do

Os Passeios 

 Nossa semana em Alter foi organizada pelo Geovani Lobato, um dos melhores guias da região, indicamos ele de olhos fechados. Dividimos a semana seguinte forma:

1º  dia - Arapiuns

Saímos de Alter em um trajeto de lancha pelo rio Tapajós que dura em torno de duas horas e meia rumo à comunidade de Urucureá, uma vila de ribeirinhos no rio Arapiuns, um afluente do Tapajós. A comunidade de Ucureá é o lar de 83 famílias, em que as principais fontes de renda são o ecoturismo, a pesca e o artesanato.

Ao chegarmos na comunidade fomos conhecer o Projeto Galerias, esse projeto transforma a comunidade ribeirinha em uma galeria a céu aberto. São 30 profissionais de diversas áreas, incluindo 20 artistas visuais, vindos de nove estados brasileiros e representando as cinco regiões do país. O projeto visa aumentar a visibilidade da comunidade e atrair turistas para a região, impulsionando a economia local.

 Após vermos as casas do Projeto Galerias, fomos para a oficina de tingimento de Urucureá. Lá, um grupo de mulheres artesãs tecem a palha de tucumã, que vem do tucumanzeiro, uma palmeira da região amazônica. Através de raízes, folhas, e frutas como o urucum e o jenipapo  elas também tingem essas tiras e após seu tingimento, as trançam, dando vida a bolsas, cestos, vasos e muitos outros objetos que traduzem a ancestralidade indígena da região que se estende por gerações. 

Aprendemos todos os passos para a produção do artesanato local, desde a colheita da palha, sua separação, o tingimento, secagem, tessitura da palha, até chegar ao produto final. Foi lindo ver o quanto essa atividade transforma a economia local, capacita mulheres e, principalmente, garante a independência financeira delas. Além disso, ver a riqueza do nosso artesanato e a herança cultural traduzida por ele, é sempre muito especial.  

2º dia - Flona

Em nosso segundo dia em Alter fomos para a Flona - Floresta Nacional dos Tapajós, o trajeto dura mais ou menos uma hora de lancha. Chegamos na comunidade de Jamaraquá, no município de Belterra, pela manhã e encontramos o Sr. Dido, nosso guia pela Flona. Ele nasceu e cresceu na comunidade e conhece tudo da floresta. Foi ele quem nos levou para fazer uma trilha de 9 km de extensão em meio à mata, que vai muito além de observar a natureza, aprendemos muito com o conhecimento dos povos da floresta.

Vimos espécies incríveis de fauna e flora, como uma Samaúma centenária, seringueiras e cipós, ariranhas e até um tamanduá de coleira. A trilha passa por vegetação densa, onde é possível ver a diferença entre uma mata secundária e primária, mas o ponto alto do passeio é chegar ao Igarapé de Jamaraquá para se refrescar em suas águas cristalinas.

Na volta, almoçamos na comunidade, um almoço típico com peixe, farinha, arroz e feijão com legumes. Após o almoço fomos passear de canoa pelo outro lado do Igarapé de Jamaraquá para vermos a mata de igapós, uma vegetação submersa típica da amazônia e uma das coisas mais lindas que já vi. Mesmo estando muito cansadas após 6 horas de trilha, valeu muito a pena fazer esse passeio!

Chegamos a Alter, tomamos banho e nos arrumamos e logo já saímos de novo para um jantar que estávamos super ansiosas. Fomos para o Pirarimbó - a famosa Piracaia de Alter com Carimbó - o jantar é uma celebração cultural imperdível.

Há diversas Piracaias em Alter (Pira é peixe e Kaia é assado na praia), mas o Geovani nos sugeriu o Pirarimbó por ser super completo.

Saímos da orla de Alter às 20:30 de barco a motor e mais ou menos 10 minutos depois, chegamos em uma das praias do Tapajós. Fomos recebidas com uma roda de Carimbó - ritmo típico do Pará - com a praia toda iluminada por velas.

Nos acomodamos, há várias redes e esteiras de palha espalhadas pela praia, e logo se iniciou a vivência e roda de Carimbó com o mestre Hermes Caldeira. Entre uma música e outra, Hermes vai nos contando histórias do folclore local, como o Boto e a Iara, vividas por moradores da região. Além das músicas e contação de histórias, cada mulher é convidada a escolher uma saia de chita rodada para aprender a dançar o Carimbó com a "sereia" da roda ao redor da fogueira. Em seguida, é servida a Piracaia, peixes e legumes assados na brasa, salada, vinagrete paraense, feijão de Santarém, farinha de mandioca e pimenta com tucupi, tudo servido na cuia.

A comida é maravilhosa e, além da piracaia, durante toda a noite há um bar servindo bebidas locais como cachaça de jambu e caipirinhas enormes servidas na cuia com muito charme.

Foi uma vivência linda que não pode ficar de fora do roteiro. É possível reservar o Pirarimbó através do site deles, clicando aqui.

3º dia - Vila de Alter

No terceiro dia estávamos mortas com a programação intensa dos últimos dois dias então decidimos passar o dia no hotel para curtir sua estrutura e fotografá-lo. Na programação original, faríamos isso no último dia da viagem, mas achamos ótimo dar uma quebrada na metade da viagem pois os passeios são cansativos. Como foi uma viagem que unimos lazer e trabalho, acabamos passando o dia todo no hotel, mas para quem quiser tirar um dia para descansar, recomendo passar algumas horas na Vila para aproveitar o hotel e depois ir curtir alguma praia sem pressa.

4º dia - São Marcos e Coroca

Em nosso quarto dia, fomos novamente para Arapiuns visitar a comunidade São Marcos e aprender sobre o processo da farinhada. A farinhada é uma prática tradicional na Amazônia e faz parte da cultura e subsistência de várias comunidades ribeirinhas. O processo envolve várias etapas, desde o cultivo da mandioca até a produção final da farinha.

A mandioca utilizada nesse processo da farinhada foi a mandioca brava, essa variedade possui um alto teor de ácido cianídrico, uma substância tóxica. Nesse processo de preparo da farinha suas substâncias tóxicas são retiradas, tornando seguro seu consumo.

Passo 1: As raízes de mandioca são descascadas para remover a casca externa, depois são raladas para formar uma massa.

Passo 2: A massa de mandioca é prensada para extrair o líquido conhecido como manipueira.  A manipueira é muitas vezes usada como fertilizante ou para outros fins.

Passo 3: A massa de mandioca é espalhada para secar ao sol.

Passo 4: A massa seca é peneirada para obter uma textura fina, a  farinha resultante é torrada para remover a umidade restante e dar sabor.

Após nossa experiência com a farinhada em São Marcos, fomos de barco para a comunidade da Coroca, na margem esquerda do Arapiuns. A chegada pela praia em frente à comunidade estava um pouco diferente do comum por conta da baixa do rio, então, paramos o barco um pouco mais distante e seguimos andando por aproximadamente 20 minutos.

O ponto alto da comunidade para nós foi o almoço maravilhoso no restaurante Coroca, lá eles servem comida caseira com os principais peixes da região como como tambaqui, matrinxã, pirapitinga, pirarucu, surubim e filhote acompanhados de salada, arroz branco, feijão paraense (com legumes) e farofa regional, além de suco de cupuaçu fresco.

A comunidade vive de turismo, artesanato e apicultura. Além de almoçarmos por lá, fomos conhecer a criação de Quelônios, as "Tartarugas da Amazônia", que vivem ali no Lago da Coroca. Entramos em uma balsa não motorizada no meio do lago e lá pudemos vê-las e alimentá-las. São muitas e enormes!

 Em seguida, fomos ao Meliponário e ao Apiário para ver a criação de abelhas Jandaíra (sem ferrão) e das abelhas com ferrão. No final do passeio, pudemos comprar o mel de cada uma delas, além de vermos o artesanato local, feito com palha de tucumã trançada.

 Apesar de ser um passeio interessante, nós não amamos. Trocaríamos por uma tarde aproveitando as praias do Tapajós.

 Voltamos para a Vila, tomamos banho e de lá fomos para o centrinho da cidade jantar. Ali, a vida acontece ao redor da praça, com a Igreja Nossa Senhora da Saúde, restaurantes e barraquinhas vendendo todas as delícias locais. 

 Jantamos no Ty Comedoria e Bar, um dos melhores restaurantes de Alter. Ele fica de frente para a Ilha do Amor, à beira do Rio Tapajós, em um ambiente charmoso, com gente jovem, bons drinks e menu com alma tapajônica. 

 Após o jantar, fomos tomar sorvete na praça, os sabores que experimentamos foram cupuaçu e açaí. Diria que são diferentes, mas estando lá, tem que experimentar.

5º  dia - Canal do Jari

Em nosso quinto e último dia em Alter, fomos conhecer o Canal do Jari e o jardim de vitórias-régias da Dona Dulce. Nós visitamos Alter na segunda semana de dezembro, e, apesar de ser uma época ótima para aproveitar as praias da região, o fato dos rios estarem baixos impossibilita ou dificulta alguns passeios. Dois deles são o Canal do Jari e a Trilha das Preguiças, passeios que são feitos juntos pela sua proximidade.

 O Geovani, nosso guia, já havia nos alertado sobre a dificuldade de fazê-los. Seria uma caminhada muito longa embaixo de um sol escaldante - praticamente não há sombra no trajeto. Nas épocas de cheia, o barco para na frente do restaurante da Dona Dulce, mas agora em dezembro fizemos uma longa caminhada para chegar até lá. Infelizmente seu jardim de vitórias-régias estava bem vazio por conta da época do ano, vimos poucas, mas nas épocas de cheia ele fica lotadoo, vimos as fotos e é maravilhoso.

 Apesar de tudo, queríamos muito ir ao restaurante provar o menu todo feito a partir da vitória-régia e conhecer a Dona Dulce, quase uma entidade em Alter do Chão. 

Ela percebeu que os peixes se alimentam da planta e resolveu se aventurar na cozinha criando pratos feitos de vitória-régia. Lá comemos quiche, vinagrete sem cebola e feito com o caule, chips da fibra da planta, massa de pizza e picles feitos a partir do caule também, assim como o tempurá com molho de dendê. Pipoca feita de semente de vitória-régia e brownie sem chocolate feito da semente triturada, rabanada do caule e geléia das flores, é incrível e os pratos são surpreendentemente bons.

Todos esses pratos serviram apenas de entrada para abrir o apetite, após a Dona Dulce, fomos para o restaurante Casa do Saulo, considerado um dos melhores restaurantes da região. Em nosso voo de ida, voei ao lado do Beto, um chef nascido em Barretos e que hoje mora em Alter comandando o restaurante. Ele nos recebeu por lá e fez uma curadoria dos pratos típicos que precisávamos provar: tomamos tacacá, comemos maniçoba trio tapajônico (dadinhos de tapioca com queijo e geleia de cupuaçu apimentada, bolinhos de Piracuí com maionese de pirarucu defumado e iscas de peixe com geleia de açaí) e por fim, açaí local com farinha de tapioca. Estava tudo maravilhoso, além da comida o restaurante é super agradável, com uma vista linda para o rio, recomendamos muito incluí-lo no roteiro para um almoço.

 Ao chegarmos em Alter, fomos direto para o centrinho ver algumas lojas que ainda não tínhamos tido tempo de conhecer. É possível achar produtos iguais ou parecidos em quase todas as lojinhas, fomos entrando e garimpando sem olhar os nomes, mas a mais especial, e cara também, é a Araribá - é de enlouquecer!!! - um paraíso para quem ama artesanato e peças étnicas. Vá com tempo pois é grande e olhe as lojas ao entorno também, pois, como eu disse, é possível encontrar peças iguais com preços melhores.

Dicas Gerais

 

Alter é um destino para ir o ano todo, no entanto, cada época do ano tem suas particularidades. Fomos em dezembro e pegamos a época de baixa dos rios, o que significa mais bancos de areia e mais praias. Na época de cheia os bancos de areia somem mas é possível fazer passeios que não fizemos como o da Floresta Encantada. O Geovani nos sugeriu voltar em agosto em uma próxima oportunidade, por ser um mês de transição, é possível aproveitar tanto as praias que estão aparecendo, quanto os passeios como o Canal do Jari e Floresta Encantada em sua melhor forma.

 Acabamos não tendo tempo de ir a Praia do Amor, um dos cartões postais da cidade. A dica é ir durante a semana, sábados e domingos são muitoo lotados por lá. A barraca de praia Dulce's Bar é uma ótima pedida para tomar sol e banho de rio enquanto toma uma caipirinha de cupuaçu e come iscas de pirarucu e bolinhos de piracuí.

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